Vamos apresentar um modelo novo de organização da sociedade.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A comunicação social promove os interesses privados em detrimento do interesse público

Considerando a Comunicação Social, incluindo a imprensa, o rádio, a televisão e a cinema, classificaremos os materiais publicados em três categorias grandes: as notícias, as opiniões, e as diversões.

Deixando de momento o resto, vamos pensar nas opiniões, as quais devem ajudar a formar as opiniões da Sociedade. Uma publicação de opinião é constituída por duas partes essenciais: o assunto tratado, e a opinião propriamente dita. Quais são então os critérios que um órgão da comunicação social deve seguir na escolha de um e do outro componente? Idealmente, deve escolher os assuntos de interesse público, e os interlocutores, que têm opiniões próprias e as conseguem transmitir ao público, eventualmente apresentando um leque suficientemente largo dos pontos de vista sobre o assunto considerado.

Será que é isso que realmente acontece na prática? Quanto ao assunto escolhido, tipicamente é de interesse público. Quanto aos interlocutores, classificaremos estes em três categorias: as celebridades, os publicistas de serviço, e os peritos institucionalizados. Que tipo de opinião conseguem trazer estes interlocutores ao público?

Ora, as opiniões das celebridades apenas interessam por serem celebridades, entretanto estas dificilmente dirão aquilo que verdadeiramente pensam, pelo menos quando o assunto envolve alguma polémica, pois limitam-se a relatar as suas emoções e produzir opiniões politicamente correctas, já certificadas pelos publicistas de serviço. Portanto, esta pequena parte da população, embora tem o direito de ser ouvida, não o usufrui de maneira independente e livre.

As opiniões dos peritos institucionalizados, quase sempre apenas coincidem com as opiniões oficiosas das respectivas instituições. Mas as interesses e, consequentemente, as opiniões das instituições, sempre divergem com as interesses da Sociedade, as quais, idealmente, devem ser representadas pelo Estado.
  • Um exemplo corrente: o Estado Português tem que reduzir o défice do seu orçamento (o que, por acaso, contraria os interesses da Sociedade), entretanto, cada um dos Ministérios está objectivamente interessado em aumentar tanto os seus gastos com o pessoal, como os montantes canalizados por si à Sociedade. Os interesses que ganham nesta luta dos últimos 5 anos são obviamente os interesses dos Ministérios e do PS, mas não os da Sociedade nem do Estado, o seu representante oficial.
Deste modo, as opiniões dos peritos nunca são independentes nem livres, sendo quase sempre divergentes com os interesses da Sociedade.

Temos então os publicistas de serviço, como a única categoria de pessoas potencialmente capaz de para cumprir o papel socialmente importante de formadores da opinião pública adequada sobre os problemas de interesse público. Serão eles suficientemente independentes e qualificados para emitirem opiniões cientificamente válidas? Independentes não são, sendo sempre dependentes da opinião do seu auditório tradicional, e ainda de quem lhes paga os honorários, tendo por isso uma tendência de emitir opiniões encomendadas, directa ou indirectamente, por estes seus superiores. Quanto às suas qualificações, estas, no melhor caso, não ultrapassam o bom senso comum, pois unicamente são qualificados para escrever e falar bem, não sabendo em profundidade de nenhum assunto especifico, e não podendo, deste modo, formar nenhuma opinião própria, bem fundamentada.

Resta nos concluir, inevitavelmente, que as opiniões públicas são formadas à encomenda de quem paga aos publicistas de serviço, nomeadamente, das estruturas burocráticas do poder institucionalizado, e dos grandes grupos económicos. Mas os interesses destes detentores do poder político e económico divergem dos da Sociedade, assim, os interesses privados tomam o lugar que legitimamente devia ser ocupado pelo interesse Público, com as consequências desastrosas para o desenvolvimento social.

Referências:

FÓRUNS, POLÍTICA E VIRTUALIDADE NO HORIZONTE DA COMUNICAÇÃO